Brasil avança na troca de tradicionais sacas por grandes embalagens na exportação de café

O saco de juta, embalagem marcante das exportações de café do Brasil por longa data, está sendo gradualmente abandonado à medida que comerciantes e cooperativas enfrentam um crescente aumento de custos em meio a preços globais fracos e diante de um aprofundamento da crise econômica no país.

Ao introduzir enormes sacos plásticos para substituir as tradicionais sacas de 60 kg que dominaram embarques de café por mais de dois séculos, as empresas estão economizando milhões de dólares por ano, em um movimento tão bem-sucedido que deve remodelar a indústria cafeeira mundial.

Até poucos anos atrás, o maior produtor de café do mundo despachava quase todas as suas exportações em sacos de juta. O próximo ano verá o Brasil exportando mais de metade do seu café verde em grande sacos de polipropileno de 1 tonelada ou invólucros de polietileno de 21,6 toneladas para contêineres.

A Dínamo, maior armazenadora de café no porto de Santos, afirmou que os super sacos responderam por 30 por cento das suas exportações em 2015 e estão crescendo 5 por cento ao ano.

A maior cooperativa de café do Brasil, a Cooxupé, praticamente eliminou a juta.

“É o futuro”, disse o operador Mauricio Di Cunto, da exportadora Comexim, que embarca metade do seu café a granel.

“Ele nos permite ser mais agressivos na oferta de descontos sem o custo de juta.”

O saco de juta de 60 kg é uma unidade padrão de medição para negociação café desde que o Brasil iniciou a produção comercial no século 18.

Os grãos e o açúcar há muito tempo passaram a ser embarcados em grandes quantidades, mas o café foi um retardatário nesse processo.

O crescimento na movimentação de granéis reflete uma queda na oferta de trabalho manual para embarcar os sacos de café. Salários mais altos e regulamentos mais rigorosos, que expõem indústrias a processos trabalhistas, estão acelerando o declínio.

O cálculo é convincente: um trabalhador com uma empilhadeira pode encher um contêiner com super sacos em 25 minutos. Para encher o mesmo contêiner com sacas de juta são necessários nove homens e quase uma hora. Carregar um contêiner plastificado é ainda mais rápido, com os grãos sendo apenas despejados para dentro e para fora.

Custa de 22 a 40 centavos cada vez que um trabalhador coloca um saco de 60 kg para encher um contêiner ou pesá-lo. O Brasil produz de 50 milhões a 60 milhões de sacas de café por ano.

Nas ruas de Santos, um porto que fez fama com o boom do café do Brasil, uma pequena equipe de carregadores se reúne de manhã na entrada da Dínamo.

“Estávamos habituados a ter 59 carregadores… agora temos nove”, disse o líder sindical e ex-carregador Carlos Roberto Lima.

A mudança para o tratamento de grandes quantidades de café está ocorrendo com os preços globais das matérias-primas caindo, com o crescimento mais lento da demanda em mercados emergentes como a China.

O preço do café, que é a sexta principal commodity de exportação do Brasil, caiu mais de 60 por cento ante os picos de 2011, para cerca de 1,18 dólar por libra-peso.

PLÁSTICO

O diretor da Organização Internacional do Café (OIC), Robério Oliveira, disse que o movimento em busca de transporte de maiores quantidades de grãos está ajudando o Brasil a adaptar-se a um sistema de logística “just-in-time” (transporte na hora exata), que melhora a gestão dos estoques em um momento de queda dos preços.

“Isso ainda é uma evolução que ocorre principalmente no Brasil”, disse Oliveira, acrescentando que espera que outros exportadores acompanhem.

Grandes torrefadores como Starbucks , Folgers e Maxwell House foram os primeiros a receber os contêineres ensacados, quase uma década atrás.

Desde então, o uso de grandes embalagens, que o Cecafé monitora desde 2007, cresceu para corresponder à metade das exportações de café verde do Brasil, disse o diretor técnico da associação, Eduardo Heron Santos.

Um contêiner forrado de 20 pés carrega 21,6 toneladas de café, enquanto um com sacas de juta carrega 19,3 toneladas, disse o diretor da Dínamo Alex Jairo Pinto. Com “big bags”, o mesmo tamanho de contêiner carrega 20 toneladas de café.

Seja com sacas de juta ou a granel dentro de contêineres, o custo de transporte de um contêiner é o mesmo, disse ele.

“Essa é a única razão pela qual 60 por cento do nosso café é exportado em contêineres forrados e 30 por cento em big bags”, disse Pinto.

A cooperativa Cooxupé, que movimenta um décimo de todo o café do Brasil, foi uma das primeira a mudar para os grandes recipientes alguns anos atrás, disse o presidente da entidade, Carlos Paulino da Costa.

“Nós praticamente eliminamos a saca de juta”, disse ele, acrescentando que esse modelo de transporte permite economia de 18 milhões de reais por ano para a cooperativa.

Uma saca de juta custa 4 reais, mais 1 real para o conserto em caso de reuso. O “big bag” de uma tonelada de 50 a 150 reais custa quase a mesma coisa, em termos relativos, mas dura duas vezes mais.

HÁBITOS DIFÍCEIS

As economias ainda são imperceptíveis para os consumidores, já que boa parte do preço de varejo do café é adicionado depois que os grãos saem das mãos das tradings –torrefação, comercialização e preparação constituem uma parte muito relevante do preço final. Contudo, os consumidores recebem um produto de melhor qualidade, já que o plástico protege o café do calor, luz e umidade mais do que a juta.

“As grandes sacas ajudam a preservar o sabor do café”, disse o operador Daniel Wolthers, da Wolthers & Associates, em Santos. “Você não fica com o gosto da juta.”

As super sacas, no entanto, não assumirão tão cedo o trono da saca de 60 kg como unidade básica de medida do mercado, da mesma forma que a saca de grãos (no Brasil) e o bushel (nos Estados Unidos) continuam relevantes para o setor, mesmo com a soja e o milho sendo transportados a granel.

Além disso, o mercado de cafés especiais, que oferece um valor maior por grãos produzidos com preocupações sociais e ambientais, deverá ser mais lento em abandonar os vínculos com a saca de juta, disse o comprador de café verde Felipe Gurdian, que trabalha com a canadense Cooperative Coffees.

As sacas de juta, com suas cores terrosas, aspecto rústico e estampas esmaecidas, dão uma impressão de produto tradicional, com origem no interior.

“Ainda há relutância em adotar as sacas maiores em produtos como os cafés especiais”, disse Gurdian.

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